domingo, 9 de dezembro de 2012

Quando deixei de sonhar


...e como uma criança assustada à procura de qualquer feixe de luz em seu quarto escuro; assim fui acordada para o tão propriamente dito "mundo real".

Sim, vestidos cor-de-rosa, arranjos de flores no cabelo, pessoas gentis e coisas assim, não existem no mundo em que vivo agora. Nada é fácil como em meus sonhos, não quando se trata do mundo real.
O clima não é agradável, as pessoas são mal educadas, a vida é cada dia mais complicada e  frustrantemente chata. Não há compreensão, nem paciencia, nem boa vontade, nesse mundo em que caí. 
Sim, me sentí como Alice ao cair na toca do coelho; vendo tudo que havia em meus sonhos ficar pra trás enquanto continuo em constante queda livre. A boa casa, o bom marido, a boa família, a boa vizinhança, a boa cidade, o bom salário, o bom meio de vida, os bons amigos, as boas viagens, os bons finais de semana, a boa pessoa, tudo isso fui deixando em sonhos, quando caí. E o desespero de agarrar esses sonhos é tão grande que, como louca tento alcançá-los com as mãos, mas de nada adianta tal esforço. 
Enfim caí em mim e percebi que sonhos não vão deixar de ser sonhos. Estes não se tornam realidade; pois a realidade é que temos de viver um dia de cada vez, sem planos para serem frustrados, sem expectativas que podem nunca ser alcançadas, sem sonhos, que nunca deixarão de ser sonhos. 
A realidade de contas do mês, de irritabilidade, de discussão, de má vontade, de despreocupação, de egoísmo, de injustiça, de desvantagem, de desonestidade, enfim, de toda essa roda viva deste mundo em que caí muito me  faz mal. 

Desde miúda fui ensinada: Nunca deixe de sonhar!
Queria seguir este conselho até o fim da vida, e assim seria. Mas, ao chegar no fim da toca, o coelho me chacoalhou, deu três tapinhas em meu rosto para que despertasse, e quando isso se deu, ele olhou com indiferença dentro dos meus olhos e declarou com desânimo;

-Você chegou! Bem vinda ao mundo real. lamento. 
Ah, como queria fechar os olhos e voltar para meus sonhos, meus vestidos cor-de-rosa...mas não há caminho de volta.


E desde então abandonei meus sonhos, e comecei a viver como todos os outros que estão no "mundo real".